O Choro do Meu Pai
Recentemente, papai, meu coroa, velho amigo, fez 71 anos. Uma alegria desfrutar de pertinho a presença de uma pessoa em sua singularidade, como me ensinou Jorge Barbieri. Nesses casos, quase sempre, essa deve ser alguém que esteja bem juntinho de nós, muitas vezes gente da nossa própria família. Bem simples, como a vida de fato é (nós que a complicamos), seu Zé foi quem plantou a semente musical dentro de mim, obrigado pela necessidade de me por para trabalhar ao seu lado, tocando ainda menino, para defendermos juntos uns trocados e alimentarmos a sua prole. Ano passado ainda, por ocasião do lançamento dos CDs feitos pela FJA através do edital Núbia Lafayette, estive presente ao TAM para receber os 100 exemplares a que tivemos direito, após a entrega do relatório final do projeto, comprovando que havíamos realizado o trabalho pro qual nos candidatáramos. Tal era o disco ‘Forró do Pé da Serra’, com uma dúzia de choros sanfonados da lavra do meu pai Zé de Cezário, executados por ele próprio ao instrumento. Eu mesmo escrevi e fui o proponente da astúcia, estimulando-o a compor mais material para registrarmos em estúdio o seu repertório. Apesar de ter contraído parkinson, e já sem dominar inteiramente o acordeom (como fez por 50 anos), com um ou outro cuidado foi possível realizarmos as sessões, conduzidas com habilidade, maestria e boa dinâmica naquele dia incrível onde conseguimos esse êxito maravilhoso. Na ocasião da solenidade em que foram entregues os discos ele se encontrava ausente da cidade, numa viagem que inclusive o levou a apresentar-se em São Paulo, num localzinho decente para a boa música independente, chamado Casa de Francisca. O show foi memorável, com vários convidados incríveis, entre os quais Ari Collares, Déka, Zezinho Pitôco, e mais a presença de Cacau Arcoverde, que por uma casualidade também se encontrava em Sampa naqueles dias.
Lula Alencar, seu filho e meu irmão, foi quem ajeitou tudo.
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