Demandas


Estou de volta ao limbo.
Após as voltas que dei para levar o meu CD Alma de Poeta ao sudeste do país, cá estou travez para dar continuidade a esse ciclomúsico onde giro, gravitando em torno de reclames, conformismo, desorganização, desinteresses ... e alguma ou outra boa iniciativa para além de cada um. Pode parecer que seja uma situação típica de nossa cena, mas as características são próximas de outras espalhadas de norte a sul do país, redundando em movimentos parecidos com muitos outros lugares.

Sim! Parecidos. Pois por mais que nos aproximemos, somos mesmo nós que estamos no extremo, nessa extremidade atlântica, esquina distante do Brasil. É aqui, nesse porto pequeno e sob essas dunas de areia movediça que teremos que reescrever ao menos em parte a história que ficará impressa onde tocar os nossos pés.

A atualidade da música brasileira, envolta em embalos, está agitada. Do Pará ao Paraná, do Acre a Paraíba, nos Mato Grossos ... até nas A-lagoas. E também nos Rios. Mas nosso Rio precisa de um norte, para tomar rumo e não ficar para trás demais, se transpondo apenas num lago barrento.

Agora em BH, durante a terceira edição da Feira Música Brasil deu para perceber com mais clareza vários aspectos que evidenciam as diferenças entre nós e o resto dos outros caminhos adotados por estados já mais tradicionalmente ligados aos negócios da música. São inúmeras as mobilizações dos diversos segmentos do setor musical para marcar suas posições frente aos novos modelos em discussão, contribuindo para alicerçar as próximas plataformas que irão dar sustentabilidade nos anos vindouros, que já se anunciam, trazendo afinal para essa década que em breve começa, algumas novidades mais estáveis e algum alento aos profissionais do ramo, sejam empresários, produtores, fabricantes de instrumentos, compositores etc.

O principal foco agora é a participatividade. Escolhi esse termo justamente por ele conter em si esse conceito da participação ativa. E é principalmente essa inércia que teremos que quebrar, nos fortalecendo conjuntamente para tomar parte nessa boa briga, que por ora ainda vem sendo travada pelos tubarões, mas decerto irá se abrir logo para outros atores que estejam se organizando para se autoincluírem nesse processo. Não há dúvida!

Porque.
A conjuntura que atingiu a base da indústria fonográfica não levou um direto só por aqui. O soco foi mesmo global, atingindo toda uma cadeia nascida do meio artístico e gerenciada por marqueteiros nos departamentos inescrupulosos das grandes gravadoras. Elas eram antes diretamente responsáveis por lançar e descartar novos artistas, mas não só isso. Elas inclusive regulavam os mercados de shows e discos, explorando um filão indispensável do caldo cultural humano, ganhando muito dinheiro. Tanto foi assim, que o público, embasado nos princípios das leis fragmentadas pelas tecnologias nascentes na virada do século, resolveu investigar mecanismos mais atraentes para compartilhamento de arquivos de som, quebrando tudo. Seus altos índices expressos com glamur vieram decaindo durante toda essa década, e não tem nos causado mais surpresa cruzar com antigos dirigentes dessas máquinas pelos mesmos corredores desses encontros onde estamos buscando saída para nossos micro-selos.

É aqui onde temos que entrar, justamente por essa porta entreaberta, onde estão sendo discutidas e articuladas as políticas que definirão o trajeto dos 5 ou 10 anos à nossa frente. Portanto, ainda contamos com grande possibilidade de subirmos no palco histórico dessa fase. E a hora para nos organizarmos coletivamente e atuarmos não é outra. Mas essa. Por isso é preciso insistir na continuidade das ações, desde as desencadeadas há algum tempo, como o Fórum Permanente e o Sindicato dos Músicos, até as mais novas, caso da Rede. Mais ativa neste ano que está pra acabar, ela foi responsável pela retomada do Fórum, e trouxe à berlinda várias questões mais atuais, nos pondo em sintonia com os assuntos que estão em pauta país afora: leis de incentivo, direitos autorais, capacitação profissional, feiras de negócios do setor, empreendedorismo, e por aí vai. Também trouxe à tona os contumazes problemas sempre referentes, mas isso a gente vai ter que driblar...

Ou, ao invés de tocar/cantar e se misturar, apenas dançar.


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