Feliz Natalcidade
Aqui também tudo é igual – Natal/RN. Os babacas se entregam a quaisquer sacrifícios, até comprar seus carrões e passear com suas caras de bunda pelas avenidas, em poses estudadas para as tardes dos feriados. Levam a tiracolo suas mulheres com caras de plástico, quando não uma cadelinha. Nas assembléias, as pregações dos ministros devidamente acompanhados de suas respectivas senhoras primeiras-ministras, esmerados a doutrinar sua clientela esfalfada, esganiçando seus evangelhos espúrios pelas grandes janelas do templo, despejando nos alto-falantes seus brados vociferozes até o asfalto. As meninas, aparentando limpinhas, desembarcam na orla para vender seus sorrisos aos estrangeiros. Os rapazes, pelados até a cintura, se apertam nos bares perto da escola, a jogar sinucas e a comentar jocosamente sobre suas coleguinhas de farras ou placares de futebol. Relembram em detalhes suas aventuras arrogantes, revelando as animalidades da noitada. Já na periferia, as mesas sob as calçadas juntam os casais, a fumar cigarros clandestinos ou a consumir churrasquinhos de gata misturados a cana e cerveja. Se embalam em pagodeiras de domingo e esbanjam no requebrado entre as cadeiras uma vocação para a felicidade, adoçando suas vidas puxadas com suor e sal. O movimento é intenso. Mal calculado. 120 mil carros a mais, em 2 anos. Mas continua ... O sol investe quente pelo dia, a lua cresce bela à noite. O calor da luz diária é abrandado por uma brisa oceana atlântica, viçosa, praieira, prazerosamente aliviante quando chega, nos roçando bem de mansinho.
O clima tropical e sua natureza exuberante deu a capital potiguar um toque carinhoso de harmoniosa cordialidade, toda especial, sensual. As novas gerações de seus filhos estão a nascer lindas, com um charminho provocante e artificial, sonso. Segue o trem. Apita quando passa pela Pedra do Rosário, e mais tarde ao transpor a ponte velha sobre o rio de nome potengi, a rugir vagarosamente até a lagoa de extremoz, já tendo atravessado outros destinos. Segue o trem.
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