A Lei Rouanet em Debate


O Ministro da Cultura se e me emocionou na noite dessa segunda-feira (8 de junho) no auditório da Ass. dos Advogados de São Paulo na capital paulista, onde esteve para discutir com parte interessada da sociedade as mudanças que vem propondo para alterar os mecanismos da lei federal que regulamenta o investimento financeiro de empresas privadas ou estatais através da renúncia fiscal, a tal Rouanet. A dita deve seu nome ao proponente, que foi quem apresentou no governo de Fernando Collor a proposta, desde então em vigor no país, e desde muito tempo sendo questionada por artistas e produtores que agora entram numa fase já decisiva da discussão que procura aprimorá-la (ou mantê-la tal como está, beneficiária de um pequeno notável círculo de compadres, principalmente de escritórios que atuam na região sudeste brasileira, mais especificamente nos escritórios de duas cidades brasileiras). Adivinha quais?

Um pouco só de inteligência, e é muito perceptível dentro desse embate travado pelo estado brasileiro (que o ministro representa no atual governo) e uma pequena casta de produtores e entidades, estes a se mostrarem reticentes quanto ao projeto de mudança, que até aqui apenas uma fração mínima de envolvidos estão dividindo o bolão financeiro oferecido por ainda poucos patrocinadores e/ou apoiadores de espetáculos, quase sempre grandes produções aliadas a nomes já vistosos das artes, e ainda por cima a cobrar altos preços por iniciativas já amparadas por subsídios oriundos da aprovação da proposta nessa lei.

Ainda me espanta nesses encontros a vaidade. Os holofotes são ligados e (quase) todos correm para o foco da luz, alguns com uma verborragia estridente, muitas vezes sem ter em conta que aquele processo ali sendo apurado, em muitos casos estará regendo em breve tempo um sem conta de outros fatores essenciais. Não importa muito. Importa sim o milimétrico instante da possibilidade de estar mais tarde no jornal nacional. Aparecer.

Em troca disso, e da desarticulação dos segmentos como classes organizadas e politicamente engajadas, restam fragmentos, sobra farpa pra todo lado. Mas, embora cansado, e tendo que me arrastar até o auditório situado no centro de São Paulo após um dia bem cheio, não me desagrada ver uma centena ou mais de pessoas reunidas para discutir e decidir sobre seus próprios interesses, e dividir suas opiniões entre rusgas e tagarelices. Me desagradam os tons professorais de uns e a arrogância sem ignorância de outros, mas o tom emotivo da fala do Juca Ferreira em defesa de seus propósitos foi mesmo o que mais me chamou a atenção, pois não passava superficialidade, e sim uma verdade de alguém em busca de firmemente concretizar os ideais em que crê.

Foi isso o que vi. E senti.


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