Saí para catar cogumelos.
A manhã abrira-se generosa sobre o vale, com o sol ainda timidamente atrevido a jogar sua luz pela paisagem.
Hora para fantásticos encontros.
Basta fazer com que sua mente acesse a senha, que você permita a possibilidade, diga sim!
... E então descortinaram-se os véus do horizonte, rico alumbramento para o meu olhar, espírito irrigado pela fertilidade do pensamento que se nutre com a beleza da manhã.
Mudo. Abandono a linguagem contida nas palavras, desprezando assim a potência absoluta contida nos vocais, largando os verbos e passando apenas a respirar ao mesmo ritmo do vento.
Lento.
Sereno.
Ameno.
Pura concentração.
Meditação.
Os poetas aspiram o perfume do caminho.
Ledo enlevo na fragrância das jacas moles, o cheiro dos jasmins.
Já agora estou como nas asas do pássaro, montado que vou em seu macio dorso a cruzar a lama do brejo, num vôo traçado pelas planícies livres e vastas que se alongam até o mar.
Amar!
Dom sublime.
Arte complexa.
Exercício dos deuses.
Força que emana de confins meteóricos e esplana-se num sopro sobre mim, me fazendo levitar pela tempestade encaracolada. (Amas?)
Agora sou peixe.
Desço a correnteza.
Ou subo, se quiser.
Nado.
Nada.
Não cabem aqui as filosofias, que tanto inundaram o meu peito, e que aos poucos vou deixando desaguar pelo leito.
Do rio.
Sorrio!
Sou réptil.
Rastejo sob a úmida folhagem.
Festejo nas fendas da rocha, minha mais nova toca.
Estendo a língua para tocar a tua, não com a arrogância das víboras, mas com a leveza do beijo dos apaixonados.
Tento tocá-la.
São as virilhas, e aqui não há saliva.
Toco-me.
Passeio tátil pelo meu corpo, pelos meus pelos e pelos meus músculos magros.
Tateio.
Saliências, orifícios, poros.
Volto à antiga forma.
O mundo volta a mim.
Onde está o encantamento?
Uma leitura rápida não pode revelá-lo.
Escapou e diluiu-se nessas entrelinhas.
Sentidos sempre apurados.
Audição atenta da canção desconhecida.
Carícia suave de mãos afetuosas, tateando o peito delirante.
Colho flores pela tarde.