OS QUATRO
Sim!
Os Quatro Elementos
O Encanto. A magia. O amor. A paixão. A poesia. Santa Música! A alma e o corpo. A não-lei. A dor. E a flor. Fel e mel. O céu. Deus no inferno. Fúria avassaladora dos animais em cavalgada pela cordilheira em chamas. Mil voltas. Cabeças em fogo a iluminar a negra noite da floresta, formando o círculo aceso. Circo aceso. Palhaços inflamáveis. Circuitos em curto, choques violentos, cortes brancos no espírito, sorrisos feridos pela verdade ainda que leve quando chega, fadiga, cigarros, café e vodcas, o vinho, injeções no cérebro, pele azul, a queda, luz pouca, beijo estalado na boca da noite, cuspe e delírio, sangue nos alvos lençóis das virgens, o sumo bendito das rosas fervidas, a espera, manhã aberta pelo sol no tranqüilo horizonte oceânico... O poeta está vivo, embora louco. Foi até um certo calvário, mas voltou. Voltou para tocar o baixo, o baixo ventre e as coxas de suas amigas devassas, para tocar com sua língua as partes mais afiadas da espada forjada pela criança portadora da peste. Agora já não há mais fuga. Um selo será fundido com o mais puro aço, cravado na carne dos magros e malditos viajantes, andarilhos da estrada selvagem e oblíqua, onde esperam a aparição da deusa, da beleza, da toda glória, da carruagem dourada onde um velho de face serena e expressão mansa toca com seus tambores a vinheta que abrirá o pórtico do saber ao anoitecer, quando o ritual sagrado será anunciado. Entoam-se cânticos da liturgia dissonante: augúrios, berros, sussurros, gritos, voz deslocada no vácuo a ecoar dentro do túnel da escuridão, clamor ensandecido e torpe, coros em desacordo, lágrima, desvio visual do mundo. Tudo estará sendo quebrado e destruído mais tarde, sabe-se. Quando ouve-se uma harpa. Arpejos ruidosos. Mentes rompidas, sons distorcidos, acordes tecidos pela poeira das veias sujas. Arrepios, suor e medo. Madrugada que se atravessa como flecha aguda e lancinante. Transgressão. O desejo de ir até a fonte. O infinito desejo de ir ter na fonte. O mais infinito desejo ardendo para sempre, para todo o sempre. Amém. E se ainda é pouco, que euforia resta? O que será encontrado no vazio?
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