Paraibanamente

Pedro Osmar não é normal, não.
Pedro Osmar é um pomar de poesia.
Pedro é pedra dura de moer, é leque de expansão, é o rastro brilhante de idéias/ideais que só conseguimos captar com o pensamento aberto para a imensidão, seguindo Chico & Nação, pernambucanamente.
Pedro Osmar é música, é invenção de coisas, inversão de fases, paraíba na mente e o mundo na criação, composição de possibilidades, novas dinâmicas e efeitos, riqueza rítmica e crítica.

O homem é fogo.
Fez ao lado de seus irmãos Paulo rós no Jaguaribe (bairro de Jampa, capital PB) um movimento que introduziu o debate cultural na e da produção paraibana atual e ativa, responsável por diversos desdobramentos que somam-se em importância e respeito, com bons efeitos na politização poética e artística do local, e arredores. Com extensão cada vez mais ampla, visto que Pedro ao adotar São Paulo montou aqui uma base para o Musiclube, projeto que contribuiu como processo para movimentar a cena musical paraibana nos últimos 20 e poucos anos, e do qual descendem várias expressões musicais hoje em atividade dentro da música popular, dentre os que receberam maior destaque em mídia nacional o Totonho e Chico, o César.

E fogo chama. É chama, acende.
O cara acendeu aqui já um punhado de estrelas, plantou sementes, adubou mudanças, rabiscou projetos, consolidou parcerias, novas apresentações mão-em-mão, saudando os porteiros das casas culturais nos bairros das periferias e nos edifícios centrais da seara paulistana, ensinando a batucar no peito com orgulho digno e oferecendo-lhes os biscoitos, dividindo a carne na fibra. Gente. Bichos, esse cara é gente de verdade, uma pessoa de valor incalculável, não cabe nos gastos do projeto, nenhuma moeda cobre.

Canceriano, como está agora para se submeter a mais uma volta no eixo de sua própria rota, resolvi lhe presentear com uma alusão ao seu mais recente trabalho musical publicado, na coletânea Musiclube II, lançada aqui no Brasil pelo próprio núcleo paulista do grupo, na Casa das Rosas em janeiro de 2007. Lá ele está em 2 momentos, nas faixas 'Cacique' e 'Vontade de Matar o Rei'.

Antes disso, sua preciosa discografia contém o LP Jaguaribe Carne Instrumental (93), seguido dos CDs Signagem (95), Viola Caipira (97) e o excelente disco de canções da dupla Pedro Osmar/Paulo Ró, gravado com a participação de velhos e novos amigos como Elomar, Vital Farias, Elba Ramalho, João Linhares, Zeca Baleiro e o excelente Quinteto da Paraíba. Vem no Vento (2003) é o primeiro cedê de um selo que com ele se iniciou – Chita Discos – e as músicas ali contidas refletem a maturidade adquirida nestes já 30 anos ativos de Pedro e Paulo, podendo mostrar um lado não muito conhecido dos autores (pois os discos antigos sempre tiveram como marca principal a experimentação), e expressam a inquietude criativa de dois artistas fenomenais que procuram com o seu trabalho abrir novas possibilidades sonoras e sugerir inusitados diálogos com a música global, escapando às rotulações incessantes que costumam circundar a música nordestina, coisa que um careta nunca conseguiria fazer dentro do som, indo para diversas direções ao sabor do vento sonoro que veio soprar nesses bróderes.

Eis a fórmula. Ou a forma? E assim esses daí vêm fazendo o poema contundente, que esmigalha e esfarela. Tocando o disco ao contrário, dão sua mensagem, mas muito bem dadinha.


Paulo Ró é irmão de Pedro Osmar. Os dois montaram em 1974 o Grupo Jaguaribe Carne na cidade de João Pessoa/PB.


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