Pre-Conferência Musical
Manhã clara em Brasília na segunda cedo. As delegações começam a se espalhar por entre as tendas brancas que sediam os debates, dividindo-se entre as linguagens artísticas que dali pra frente são a razão de estarmos ali. O clima seco do planalto não ajuda em nada o calor pesado que vai aumentando rápido. A temperatura sobe. Bastou a Funarte abrir os trabalhos, logo era perceptível a movimentação dos interessados nos destinos das plenárias. Para todos os tantos garotos e garotas (todos, pois ali na expressão política de cada cidadã/o, transcendia a idade), o dia e meio que durou as pre-conferências setoriais no acampamento armado no jardim da esplanada dos ministérios foi dos mais marcantes. À par os deslizes mais grosseiros da organização, de um modo comum os objetivos das discussões acerca dos rumos da produção artística nacional foram muito proveitosos. Era possível sentir isso entre os vários presentes: os artesãos, os índios, os mestres, os escrotões, os palhaços, os estilistas, as bailarinas, atrizes etc. Um batalhão de beleza e exuberância estampando aquela pequena multidão tão múltipla quando estamos falando de delegações formadas por gente de todos os estados federativos. Uma profusão de sotaques, cores, credos e feições, místicas e tribais, irraciais, circulando incansável pelas instalações montadas no gramado do planalto. No campo da música, de um lado o selecionado do fórum nacional e do outro o coletivo fora do eixo. Embora ainda sejam frutos de uma história recente que vem modificando o panorama da música planetariamente, ‘fórum’ e ‘fora’ vem propondo questões e projetos para renovar os eixos da atual música brasileira, contribuindo com idéias e ações para a estruturação de uma cadeia produtiva do setor, e Embora estejamos ainda sob a cultura indesejada (ou inadequada?) de tomarmos as decisões nas coxias dos hotéis ou por detrás de murinhos, não reclamo da metodologia ou dos acertos consensuais (ais!) a que chegamos, após as rápidas horas vividas em Brasília sob uma tensão de opostos que tinham enfim a oportunidade de elevarem a um debate público suas diferenças. Ao fim, arruma daqui, costuras dali, foi eleito o novo colegiado nacional, após uma avalanche de decisões postas às mesas, pactuadas e votadas, com a pessoa em pé e um braço levantando o crachá. Foi rápido, mas eficiente. No calor sob os plásticos quentes onde nos acomodamos, conseguimos logo, sem parto forçado, os titulares e suplentes que assumirão em breve seus assentos no Colegiado Setorial de Música. Nunca antes na história desse país... Houve questionamentos, o que a depender do articulista, abrilhanta em muito o resultado de um consenso (ou melhor, conveniência), que se a alguns contempla plenamente a outros apenas é tolerado em nome de uma unidade convergente. Consensual. É isso aí, é a dança das coisas. Festinha básica. Uns celebram espocando champanhe, outros tomam uma pinga com limão.
E assim foi... Todos nós ali, entre os eixos subterrâneos do poder, resistindo até o fim, já quando a chuva praticamente a/obrigou os delegados a permanecerem sob a tenda branca onde votaram as diretrizes que seriam encaminhadas pelo setor à construção do Plano Nacional de Cultura, e aproveitaram também para aclamar os representantes das entidades e blocos que sentarão em breve nas cadeiras para onde foram eleitos.
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