Quadrilhas com Estilo


De dois em dois anos é sempre essa mesma farofa na nossa mesa ...
Enquanto ficamos de água na boca com o cardápio servido nos outros estados, temos sido condenados a ouvir sempre dos governos municipal e estadual via seus gestores culturais:
“Estamos arrumando a casa, equilibrando as contas da administração anterior etc”.

Agora mesmo já ouvimos da FJA que para tomar pé da situação deixada pelos antigos administradores irá precisar de seis meses, avaliando o rastro deixado por quem estava lá até agora. E assim vem sendo ... Sempre essa mesma conversinha safada aqui pra nós, enquanto ficamos babando com outros estados liberando seus editais, convocando as classes para discutir seus programas, encaminhando concretamente suas ações, ao invés de ficar nessa bazófia de limpar caca no terreiro. Arre lá! Até raiva dá.

Maas, vamos assumir nossa parcela de culpa nessa história.
Nós somos moles, e se não somos, também ainda não fomos suficientemente fortes e claros para enfrentar os entraves que sempre nos são postos e oferecidos por esses escalões que se encastelam no poder à nossa revelia, para administrar nossos orçamentos, alguns deles publicamente contrabandeados por figurões políticos que lamberam nas nossas barbas a grana para investimentos no setor cultural, desviando os recursos para gastarem com suas cachorradas.

Culpa não é habitualmente um termo que costumo usar, cristão demais para mim. Mas me falta agora uma melhor expressão para caracterizar nossa passividade exasperante. Cadê nós? Onde está nossa capacidade de organização, gente? O que somos é artistas, e não um bando de tapados. Estamos sendo regidos por um pessimismo dominante, quase niilista, broxando nosso momento, tão importante historicamente nas praças vizinhas. E aqui só tem sobrado esse gosto azedo, esse suor doído, seja para músicos, atrizes, dançarinos, oficineiros ... pôrra!

Esse texto é um vômito! Sobre toda essa miserável situação que nos ocorre, sobre a falta de perspectivas para implantação de uma política cultural séria no RN, e também sobre as nossas próprias cabeças asfixiadas, que precisam ter fôlego para saber o que fazer para romper com essa afronta. Puxa vida! Nunca vi isso em qualquer outra capital que já tenha visitado ou residido. Num nível geral a situação é ruim, mas estamos na lanterninha, inertes, mumificados, na iminência de termos como expoentes de nossas representações artísticas o folclore e a quadrilha estilizada. Que vexame!

Pois nós somos muito mais que isso, e bem mais.
Só que temos sido impotentes diante dessa mediocridade que grassa rasteira nas instituições culturais potiguares, amorfas, anêmicas, instáveis ... reféns de uma estrutura velhaca, que envergonha qualquer cidadão ou cidadã de boa índole. Vide o que está a acontecer agora com os pontos de cultura do estado.