O Salto da Onça


Antônio Francisco*, a mais autêntica poesia viva que já pude presenciar, está a um passo de se tornar um homem com o nome impresso cada vez mais, e mais. E mais: não é por acaso. Nem o momento, nem sua arte; quero dizer, nem a sua madura interpretação da atualidade brasileira, (mais especificamente o sol e o sal de Mossoró – capital do oeste potiguar), nem a sua próxima revelação como um expoente das letras potiguares, nem uma dessas duas linhas se cruzaram idilicamente.

Atrás desse fato, houve luta. Muita luta. Luta de muitos e por muitos anos. Na verdade, luta até agora. Sem descanso ou repouso final, nem que voando pra Maiame, que nem madame quando se ‘cansa’ do Brasil. Houve anos duros, difíceis que nem rebuliços no porão, alicates e canivetes, sentenças de poder – antes mais político, agora econômico – minantes para um grupo de homens que tiveram que cativar a sua poesia engolindo o chumbo das fábricas ou a poeira da seca no sertão, entre os quais o atual dirigente da fundação cultural do RN, que tem no seu histórico a primazia de ter nascido no município de Sto. Antônio do Salto da Onça, filho de agricultores humildes e cultura modesta.

O que vem ao caso é que aqui é ainda a primeira vez que isso está acontecendo. Quase imperceptivelmente, vários bons motivos nos vêm sendo dados a cada novo dia, e mesmo através de nossa tão combalida política pública. Tenho em particular a comemorar a inevitável derrocada das oligarquias e a inexorável onda de mudanças advinda com os rumos mais recentes da política estadual, municipal e nacional. Sutilmente, quase imperceptivelmente. Mas esses fatos não apenas são sintomas dessas pequenas transformações, mas e também a significativa estratégia para um novo norte teoricamente planejado e reivindicado por setores que nunca tinham estado representados de forma mais independente nesse ou naqueles outros todos governos.

Essa brecha respiradoura deverá vir a ser a passagem ainda estreita por onde nós que fazemos e damos nome às artes potiguares queremos soprar com força. Ninguém mais poderá nos segurar, a não ser nós mesmos. Cavar mais aberturas para alargar essa fenda fina é uma opção para as nossas propostas, coletivas e cooperativadas, entendidas dentro duma perspectiva que transcenda muita vaidade pessoal e estruturadas a partir de uma base coesa, madura e esperta. Capaz de perceber a exata importância dessa frágil fissura na porta da nossa cidadania cultural.

É a vez de assumirmos nosso espaço, chegar junto, cantar nas praças interioranas e nos auditórios dos estudantes, fazer fluxo à produção atual de nossos artistas, criando-lhes novas oportunidades para que cada um possa exercer seu papel com dignidade e sem o embaraço constante dos que se dedicam a embelezar a vida humana através da arte.


Natal, Sempre Sol!!



* Antônio Francisco vem se tornando um expoente da atual poesia popular brasileira através da literatura de cordel, tendo lançado já alguns livros, além do disco Os Animais Têm Razão.
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Verbete Wikipédia

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