Sem Descanso


Como se não bastasse a dificuldade para se compor e materializar uma obra sonora no Brasil ... Como se não desse um trabalho doido fazer um disco ... Como se não fosse algo a nos minar durante meses a fio o salário e a energia, o empenho, a vontade ... Como se tudo isso ainda não significasse nada, apenas uns 2 reaizinhos, e acabou.

Pois foi nisso que deu a audiência de conciliação que teve foro ontem aqui em Perdizes, bairro da grande São Paulo, onde foi julgada a causa a que dei entrada quando do sumiço da minha mala durante viagem no final do ano passado, ao transportar 1/5 dos meus cedês recém saídos da fábrica para Natal. Num primeiro momento do processo, a empresa – a famigerada TAM – me mandou oferecer através dos seus advogados uma merreca, o que tive que recusar, para manter minha dignidade. Mas, pasmem .... Ontem, em nova audiência, a justiça desse país me surpreendeu ao ler os meus direitos: me ofereceu menos. Acreditem! Julgou o meu prejuízo ainda mais baixo do que a própria companhia de aviação, que vem provocando em sua sede de lucro desde o fim do ano de 2006 uma performance grotesca, com muita confusão, desaparecimento de bagagens, entupimento de aeroportos, e por fim, o desastroso pouso em Congonhas no mês passado.

Foi desconcertante, foi.
Assistir aquilo tudo me causou um tamanho transtorno.
Imagina você ver um(a) magistrado(a) se posicionando dessa maneira, praticamente desobrigando a defesa a qualquer trabalho, quando eles é que tinham de me ressarcir. Ao invés, a autoridade se manifestou e pediu até a nota fiscal de minha mala. É verdade!! Não ria, é verdade.

Então ... É aqui que entra a minha pergunta:
Como diabos se muda isso nessa pôrra de país?
Quando é que afinal nós vamos conseguir julgamentos justos?
Quem aqui no Brasil está confiante nos critérios que o poder judiciário vêm utilizando para fazer valer sua importância diante dos assombros de desigualdade praticados sob a luz dos séculos pelas sentenças assim, desses juízes e juízas togadas pelo dinheiro?
E o nosso suor? E o suor do rosto dos nossos irmãos mais pobres, a quem eles sequer dão a voz nos tribunais? Chega disso. Não tem mais cabimento nessa hora da nossa história. Não há mais lugar para a pose cívica dessa senhora velha vendada, vendida, escrota, parcial, farsesca, sempre a decidir para os mais ricos a vantagem, enquanto a nós desdentados sobra o pior pra mastigar. É injusto. Assim, dessa justiça, a que anda escoltada sob negras capas e a nos negar o acesso, cometendo seus abusos e gozando regalias, nos desamparando das leis e dos nossos direitos, disso sim estamos cansados.

Cansados de ver protegidos os delinqüentes da classe média, cansados de tentar conquistar nossa dignidade pacificamente, cansados dos extremos açoites da polícia truculenta que só corrompe e viola, cansados de nossas escandalosas autoridades, cansados dessa chibata a nos cortar o sangue, cansados de tudo isso. Estamos cansados de pagar sempre o preço.

Estamos cansados do medo.
Posso dizer, com certeza, que estamos mais cansados que o idiota do Dória, um exemplo de brasileiro a não ser seguido. Estamos mais cansados que o Jesus irmão da Ivete Sangalo. Muito mais cansados que a Hebe Camargo, que vive de beijar beicinhos. Bem mais.

Bem mais.



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