O Silêncio Político da Cidade
por Pablo Capistrano
O bom de voltar para Natal depois de viajar para uma cidade como Salvador é que você acha o trânsito daqui ótimo, o clima agradável, os shoppings vazios e os níveis de violência urbana interioranos.
Natal é uma cidade formada por matutos cosmopolitas, por sertanejos que moram na praia e por pessoas que tem suas origens fincadas em outros lugares. Nossa cidade anda crescendo e se você chegou por aqui esses dias é bom saber que estamos vivendo uma desconcertante metamorfose, muito mais intensa e impactante do que a metamorfose que Salvador ou Recife enfrentaram nos últimos anos. Isso porque Recife e Salvador já eram pólos culturais e econômicos desde a época da colônia e Natal… bem… Natal era aquela fazenda iluminada, habitada por quatro ou cinco famílias, isolada por um sudário de areia. Era! Agora, Natal explodiu em um tempo tão curto, que deixou sem norte uma ou duas gerações que dormiram na aldeia e acordaram na metrópole.
Apesar disso a cidade anda meio silenciosa.
Falo do misterioso silêncio político que contaminou nossa urbe em 2009. Depois de um ano de mandato da prefeita Micarla de Sousa há uma estranha sensação de estagnação no ar, como se a alma da cidade, a despeito do crescimento do seu corpo, estivesse em hibernação. Não sei se você lembra, mas na gestão anterior, Natal e suas demandas entraram na pauta cotidiana dos cidadãos. As construções em Ponta Negra, o transporte público, a presença do turismo estrangeiro, a saúde, a produção artística da cidade… naquele tempo se ouvia sobre Natal nas ruas de Natal. O ex-prefeito Carlos Eduardo conseguiu (para o bem ou para o mal) em sua gestão, embater-se frontalmente com três dos mais poderosos setores econômicos da cidade: os hospitais, as empresas de transporte público e as construtoras. Esses embates mobilizaram a opinião pública, ajudando a construir um espaço para se debater publicamente o tipo de cidade que os natalenses gostariam de construir. A questão da construção de edifícios ao lado do Morro do Careca, o problema do Hotel da BRA na via costeira, as disputas entre a bancada das empresas de ônibus e os vereadores que apoiavam o prefeito no plenário da Câmara Municipal, a eterna crise da secretaria de saúde, as intermináveis discussões nas rodas intelectuais sobre a programação do ENE. Carlos Eduardo foi um prefeito que não tinha medo de tomar posições de confronto. A suavidade adocicada com que a prefeita Micarla de Sousa trata os setores que monopolizam o capital na cidade nos afasta daquele tempo de discussão e de confronto. A gestão Micarla esse ano que passou, parece ter oscilado entre o vacilo em relação às pressões inevitáveis que qualquer gestor sofre e a covardia política de manter posições firmes. Hoje, a cidade parece viver a anestesia preguiçosa dos conformados.
Micarla é doce, fala macio, mas aparentemente tem dificuldade de impor uma marca de comando sobre o aglomerado discrepante de forças políticas que tomaram conta da sua gestão. Talvez por isso, seu primeiro ano de governo tenha sido assim… tão evanescente, tão indefinido, tão desconcertantemente silencioso.
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