Tópicos Pictóricos


Marcellus Bob tem um aroma sexual, cheira a sêmen espargido, é pela noite um zumbi falante (ou fálico) e sempre vê uma mulher de cú prá cima (ou um homem). Sua série de nus é despojada de critérios estilísticos, ou mesmo estéticos, trunfos de que abriu mão para evidenciar o seu próprio estilo.
Marcellus Bob está vivo. Aparece nos botecos vazios da madrugada e jura estórias mentirosas contando casos duvidosos de romances passageiros com mundanas extravagantes, as mesmas fêmeas que são personagens dos seus quadros eróticos, as tais figuras esquálidas riscadas em branco nas suas telas com fundo azulado e cor de carne.
Marcellus Bob. Príncipe elegante do submundo. Altivo e inteligente, se desloca entre as malocas pelas galerias com a desenvoltura de um dândi clássico. Sua presença em qualquer ambiente faz pulsar as freqüências agudas e tensas do roquenrol.
“Lasca-te! Fode-te! Rea-te!”

********

Franklin Oliveira.
Tem estilo em sua estampa. É técnico e brilhante. Dono de uma personalidade ímpar, sabe imprimir em suas telas a singularidade do gênio. Mas, avesso, trocou a pintura por outros prazeres menos românticos. Tal qual um Rimbaud, abandonou seus pincéis e embrenhou-se nos sertões, ninguém sabe ao certo se para gerenciar tecnologias ou montar a guerrilha. Seus traços característicos são fortes e contundentes, e retratam muitas vezes as desigualdades sociais planetárias. Já suas marinhas, seus verdes, suas paixões... Belas!

********

Assis Marinho.
Pai de Aron, homem de Joana, mulher a quem apaixonou. Invariavelmente acorda cedo para tomar os remédios e começar o trabalho. Houve tempos em que escolheu para pousar embaixadas com endereço no vale do Pium. Costuma improvisar seu ateliê na varanda (ou até embaixo de uma sombrosa mangueira). Sujeito de alma genuinamente sertaneja, expressa sua seridoensidade através de seu chapéu.
É um cara do povo e pinta o povo. Pinta a despedida do vaqueiro na manhãzinha, à hora do café na cozinha, pinta a partilha dos peixes entre os pescadores, pinta o forró de S. João no salão embandeirado, pinta Sãosfranciscos, e pinta e pinta.
Sua obra é um orgulho para as artes do Rio Grande. Vende tudo.
Não consegue sequer juntar material para uma exposição.

********

Para Helmut não tenho palavras.


voltar ao início