20 Anos


foto de Pedro Napolitano Prata
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No dia 02 de novembro pela madrugada embarquei ao lado dos meus pais no voo que nos levou juntos a Sampaulo para um show em família na Casa do Núcleo, espaço concebido e criado por Benjamim Taubkin no Alto de Pinheiros da capital paulista. Lá me juntaria a dois outros de meus irmãos, o Jayro e o Lula, que foi quem armou tudo.

Durante o percurso não pude deixar de refletir sobre o que aquele momento significaria para a minha carreira artística e minha vida profissional. Ele era muito simbólico, pois exatamente há 20 anos, bem exatamente, eu havia aderido àquele caminho que estava agora impulsionando a minha viagem.

Impossível esquecer aquela cena de 1º de novembro de 1991, no final do dia. Havia finalmente conseguido reunir a mim mais três caras para em conjunto formarmos Os Quatro. Era véspera do feriado de finados e nosso primeiro ensaio se deu justamente no bairro de Nova Descoberta, onde fica um dos cemitérios mais visitados da cidade de Natal/RN. As vendedoras de flores em voz alta e o alarido do trânsito carregado naquela área nos enervavam, enquanto esperávamos ansiosos a hora de tomar os nossos instrumentos e dar início àquela história que viria a durar 10 anos.

Terminado esse período, que culminou com o fim da última década do último século do milênio (tema da canção O Adágio*), resolvi me arriscar ainda mais um tempo pelas veredas ásperas dos brasileiros que trabalham com música no país. Mais dez anos se passaram. Publiquei até o momento dois discos oficiais de estúdio e continuo fazendo parte da odisseia musical do universo. Seja no palco ou em outras frentes. Minha mais nova paquera é a Compor, a Cooperativa da Música Potiguar.

Tudo isso me veio num lampejo enquanto cruzava os ares voando em direção ao meu destino. Após um ensaio preliminar, para definirmos o roteiro do que viríamos a apresentar, nos dirigimos para o local do show. E ali, numa noite indescritível, juntos, nos mostramos. Que deleite! Que lugar especial. Que lembrança maravilhosa ouvir a voz da minha mãe ecoar por aquele salão, ver o meu sobrinho de oito aninhos se juntar à nossa musicalidade tocando a flauta e o piano ... Foi! Foi um momento muito emocionante com o qual a vida coroou meus vinte anos até aqui dedicados à música.

Acredito num futuro para a música que seja próximo ao que vivi nessa experiência. Salas pequenas, bem equipadas, com acústicas bem tratadas e ambientação que possibilite uma proximidade intensa entre o público e os artistas.

Avante!

* Adágio, trecho musical de andamento lento, foi o mote e o nome para essa primeira experiência nossa em estúdio. Era 1997 e J. Marciano possuía no bairro do Alecrim o embrião do Studium, onde gravamos. O mundo era àquela altura, para mim e parte de minha geração, um ofertório de desesperança.

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